17/03/2011 :: Figurinha repetida não cabe no álbum

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2011-03-17

Figurinha repetida não cabe no álbum

O tema orientação de carreira foi priorizado, na agenda dos executivos no Brasil, a partir dos anos 90, seja em função das atribuições de sua função na organização, seja em razão de seu interesse pessoal. De acordo com Dutra ( 2010), neste período pôde-se observar a emergência e concorrência de três diferentes práticas de orientação profissional: o mentoring, o aconselhamento de carreira (career counseling) e o coaching executivo (executive coaching). Ainda segundo este autor, essas práticas contribuem para as reflexões em diferentes fases da carreira: para jovens ingressantes no mercado de trabalho em fase de construção de sua identidade profissional; para profissionais experientes, preocupados com o desenvolvimento ou transição de suas carreiras e para profissionais mais seniores na expectativa da consolidação de sua transição de carreira, ao que se denominou de pós-carreira.

A angústia vivida pelas pessoas na relação com suas carreiras e a necessidade de suporte para orientá-las na construção e reconstrução dessa relação, parecem sempre ter existido e vem se acentuando. Nesse artigo pretende-se dar ênfase aos profissionais maduros e que necessitam efetuar uma transição em suas carreiras. Normalmente o cliente está vivendo ou irá viver uma crise em sua carreira profissional e busca o aconselhamento visando minimizar os efeitos dessa crise.

Um exemplo é aquele profissional, gerente comercial que, inclusive, saiu e voltou para uma mesma empresa por duas vezes a convite do diretor (por apresentar ótimos resultados) mas está desmotivado, insatisfeito com a ocupação atual, se sentindo explorado, sem reconhecimento, questionando sua situação atual de empregado e analisando outras possibilidades de trabalho. Ele chega envergonhado, se sentindo até mesmo culpado por pensar, sonhar e dizer do seu desejo de ser dono do seu próprio negócio. Tem medo de expor esta vontade e ser repreendido por almejar algo diferente daquilo que vem fazendo. O próprio mercado de trabalho, os amigos e quase sempre os familiares não concordam, colocam dificuldades e até mesmo rejeitam aqueles que querem ser empreendedores e dar um novo rumo para sua vida profissional.

Portanto, sem planejamento da sua carreira, sem objetivo profissional, inseguro e não encontrando espaço para renegociar salário, este profissional resolve procurar um aconselhamento de carreira. Se ele não sabia o quanto ele estava valendo no mercado, não podia esperar que a empresa o reconhecesse e o valorizasse. É nesse momento que ele começa a discutir e avaliar seus pontos fortes para poder utilizá-los no desenvolvimento da sua vida profissional.

O que este gerente comercial fez foi simplesmente questionar o seu valor no mercado. Inclusive já teve oportunidade de vender serviços e de atuar como consultor, demonstrando ser um profissional além de empreendedor, dinâmico, criativo, ousado e negociador. Com mais esta experiência é normal que o profissional analise e avalie novas possibilidades de trabalho.

Sair e voltar para a mesma empresa é como diz o ditado “Figurinha repetida não cabe no álbum”. O profissional preferiu o mais fácil – voltar para onde já conhecia - demonstrou falta de opção, insegurança e com isso perdeu a oportunidade de se desenvolver e amadurecer profissionalmente. Foi cômodo para ele porque não precisou, naquele momento, experimentar uma nova cultura ou um novo ambiente organizacional. Só que a gestão, ambiente e clima organizacional eram os mesmos de antes de quando ele saiu. Não justificava a sua volta. Faltou planejamento, atitude, ação. E a empresa ganhou muito, porque eles já conheciam o perfil do profissional e aproveitou para aumentar a carteira de clientes e as vendas.

Com o aconselhamento de carreira, esse mesmo profissional abriu seu próprio negócio. Como bom vendedor que é, vendeu a idéia para o irmão que entrou como sócio. Desenvolveu também um planejamento estratégico de marketing, uma bela apresentação da empresa, criou parcerias e foi fazer o seu próprio salário. Assim, o profissional assumiu um papel ativo no planejamento da própria carreira, fazendo sua escolha profissional, utilizando sua experiência, autonomia e independência em busca de desafios, equilibrando e integrando necessidades pessoais, familiares e as exigências da carreira.

Referência:

DUTRA, Joel Souza. Gestão de carreiras na empresa contemporânea. São Paulo: Atlas, 2010.

 

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